
A música é uma das formas mais universais de expressão emocional entre os seres humanos. Mas e quanto aos nossos pets? Será que eles também têm gostos musicais? E, se sim, será que preferem um relaxante Bach ou um animado reggaeton? Embora pareça curioso à primeira vista, a ciência vem estudando essa relação com seriedade, e os resultados podem surpreender você.
Não é de hoje que tutores relatam mudanças comportamentais nos pets quando certos estilos musicais são tocados em casa. Muitos dizem que seus cães ficam mais calmos com música clássica, enquanto gatos demonstram curiosidade diante de sons suaves. Mas será que essas percepções são reais ou apenas projeções humanas?
A audição animal: como os pets percebem a música
Antes de falarmos sobre preferência musical, é essencial compreender que cães e gatos escutam de forma diferente dos humanos. A capacidade auditiva dos cães, por exemplo, abrange uma faixa de frequência entre 40 Hz e 60.000 Hz, muito superior à dos humanos, que vai até cerca de 20.000 Hz. Já os gatos são ainda mais sensíveis, alcançando até 65.000 Hz.
Isso significa que os pets escutam não só sons que nós não ouvimos, mas também percebem variações de timbre, intensidade e vibração de maneira muito mais aguçada. Assim, o que para nós pode parecer um som agradável, para eles pode ser excessivamente agudo ou estressante.
O que a ciência diz sobre música para animais?
Nos últimos anos, estudos realizados em abrigos, clínicas veterinárias e centros de comportamento animal têm buscado entender os efeitos da música sobre cães e gatos. Um dos estudos mais citados foi realizado pela Universidade de Glasgow em parceria com a Scottish SPCA. Os pesquisadores observaram cães em abrigos e expuseram-nos a diferentes estilos musicais, monitorando seus batimentos cardíacos, níveis de estresse e comportamento geral.
O resultado? Música clássica foi associada a maior relaxamento, com os cães deitados por mais tempo e latindo menos. O reggae e o soft rock também mostraram efeitos positivos, em alguns casos, até mais intensos do que a música clássica.
Outro estudo, este publicado no Journal of Veterinary Behavior, mostrou que gatos expostos à música feita especificamente para felinos apresentaram menos sinais de estresse durante consultas veterinárias, como pupilas dilatadas, tremores ou tentativas de fuga. Essas músicas utilizavam tons semelhantes aos sons que os gatos emitem (como miados e ronronados), adaptados harmonicamente.
Estilos musicais e seus efeitos nos pets

Agora que sabemos que a música pode sim afetar os pets, vamos entender como cada estilo age sobre eles e por que alguns podem ser mais indicados do que outros:
Música clássica: calmaria e relaxamento
As composições clássicas, especialmente as mais suaves, como de Mozart, Beethoven e Debussy, costumam ter ritmo lento, pouca percussão e frequências agradáveis para o ouvido animal. Elas ajudam a reduzir a ansiedade, acalmar cães em recuperação ou gatos em situações de mudança (como após uma viagem ou chegada de um novo pet). É o estilo mais usado em clínicas veterinárias que adotam a chamada “ambientação sensorial”.
Jazz suave: curiosidade e conforto
Jazz instrumental com instrumentos de sopro e cordas suaves também tem sido bem aceito por muitos pets. A variedade de timbres, quando apresentada em tons calmos, gera curiosidade e estímulo sensorial sem causar incômodo. É ideal para animais que se sentem solitários ou entediados, pois ativa áreas do cérebro ligadas à atenção e percepção.
Reggaeton, pop e rock: estímulo e excitação
Aqui o cenário muda. Estilos como reggaeton, eletrônico ou rock tendem a ter batidas mais marcadas e frequência elevada. Alguns cães respondem bem a músicas mais dançantes, especialmente raças mais energéticas como labradores ou border collies. No entanto, muitos gatos e cães mais sensíveis podem reagir com desconforto, latidos ou agitação.
Esses estilos são mais indicados em momentos de brincadeira ou atividade física, como durante um passeio ou sessão de adestramento, e não quando se busca relaxamento.
Silêncio ou ruído branco: a importância do equilíbrio
Curiosamente, nem sempre “mais som” é a solução. Muitos pets, especialmente gatos, gostam de ambientes silenciosos. O ruído branco (sons constantes como o de ventilador, chuva ou ondas do mar) pode ser mais eficaz do que qualquer música em momentos de estresse agudo, como durante fogos de artifício ou tempestades.
Em Resumo
Estilo Musical | Reação Comum em Cães e Gatos | Indicação de Uso |
---|---|---|
Música Clássica | Relaxamento, sono, calma | Recuperação, ambientes clínicos |
Jazz Suave | Curiosidade, atenção moderada | Momentos de interação ou solidão |
Reggaeton/Pop/Rock | Excitação, possível agitação | Atividades físicas, brincadeiras |
Ruído Branco | Redução do estresse, tranquilidade | Fogos, tempestades, ausência do tutor |
Pets têm gosto musical próprio?
Sim e essa é uma das descobertas mais fascinantes dos estudos recentes. Cada animal reage de forma diferente aos estilos musicais, e isso pode estar relacionado à sua personalidade, experiências de vida e ambiente em que vive.
Por exemplo, um cão que cresceu em uma casa onde se ouvia muito samba ou MPB pode associar esses estilos à presença dos tutores e ao carinho recebido, desenvolvendo uma preferência positiva. Já um gato criado em ambiente silencioso pode rejeitar sons mais intensos, demonstrando irritação ou fuga.
Assim como os humanos, os pets constroem associações emocionais com sons, o que nos leva à conclusão: eles têm, sim, preferências musicais individuais.
Como descobrir o estilo musical favorito do seu pet?
Aqui vai um experimento simples e eficaz:
- Escolha uma playlist para cada estilo (clássico, jazz, pop, reggae, sons da natureza).
- Reproduza uma playlist por vez em volume baixo e observe:
- Seu pet se aproxima ou se afasta?
- Demonstra relaxamento (bocejos, deita-se, olhos semicerrados)?
- Fica agitado ou desconfortável?
- Anote os comportamentos e, após alguns dias, identifique padrões.
Esse tipo de observação ajuda não só a entender as preferências do animal, mas também a criar ambientes mais acolhedores e personalizados, reforçando o vínculo entre tutor e pet.
Música feita especialmente para pets
Hoje, há até mesmo compositores especializados em músicas para animais. Um dos exemplos mais conhecidos é o músico David Teie, que criou álbuns inteiros baseados em vocalizações e frequências específicas para gatos, com grande sucesso. No YouTube e nas plataformas de streaming como Spotify, também é possível encontrar playlists chamadas “Dog Music”, “Music for Cats” ou “Pet Relaxation Sounds”.
Elas são ótimas opções para testar em casa ou usar em momentos delicados, como antes de uma consulta veterinária ou durante a ausência do tutor.
Conclusão: som que conecta e cuida
A música é uma ponte entre mundos, inclusive entre o nosso e o dos animais. Quando usada com consciência, ela se torna uma ferramenta poderosa para acalmar, estimular e conectar. Saber qual estilo musical agrada ao seu pet é mais do que uma curiosidade: é um gesto de cuidado, empatia e amor.
Na dúvida entre música clássica, jazz ou reggaeton, o melhor conselho é: experimente, observe e ouça, não apenas com os ouvidos, mas com o coração. Afinal, os pets também sentem, e cada nota musical pode se transformar em bem-estar para o corpo e para a alma.